Coração de Leão

Uma autobiografia que envolve Amor e Fé entre mãe e filhos, capaz de mostrar que o Amor incondicional vai além da despedida... E ainda é capaz de recomeçar.

Pela Porta da Frente


Saída da maternidade

Saída da maternidade

Um dia eu recebi alta e ouvi da enfermeira que poderia retornar para visitar o meu filho. Visitar. Visitar! Passei com ele 9 meses dentro de mim e, a partir daquele momento, eu poderia  vi si tar  o meu filho. 

Lembro-me de sair com lágrimas pesadas escorrendo pelo meu rosto. Entrei no carro com a minha mãe e meu marido, os dois em silêncio, respeitando a minha dor. 

Todos nós sabíamos que o Miguel ficaria na UTI, mas quem disse que meu coração de mãe tinha ou queria entender?! 

Mas dor maior eu ainda sentiria semanas depois, quando saísse por aquela porta sem ele para sempre.

Agora, poucos dias atrás, recebi minha tão aguardada alta. Dessa vez, não houve equipe cirúrgica à espera do meu filho, eu pude arrumar seu quartinho porque a expectativa era de que em breve ele estaria em casa, todos que foram à maternidade foram NOS visitar, e não encontraram apenas comigo. 

A cena que eu tanto aguardava, após o nascimento do meu segundo filho, era a dele sendo levado pela enfermeira, vindo do berçário para ficar comigo.

Eu ainda estava meio sedada, nem consigo me lembrar de muitos que estiveram conosco nesse momento, esqueci-me também da maioria das coisas que disse, mas essa cena, eu nunca vou me esquecer. 

Ali eu REcomeçava. 

Não consegui dormir nos dois dias que estivemos lá. Passei as noites sentada na cama do hospital olhando o Theo dormir. Tudo aquilo ainda era novo e me dava um medo danado de não ser verdade. Numa das poucas conversas que me recordo, lembro-me da Mãe do Thi (que vocês conhecem pelo livro) olhando nos meus olhos e dizendo "É real!". Foi a mesma coisa que ela disse à Mãe da Sofia e a mim, quando sua segunda filha nasceu. 
"É real!". 
"É real!". 
Eu repetia dentro de mim. 

E quando disseram que já poderíamos ir pra casa, senti um friozinho na barriga. 

Mais uma vez, vi minha mãe arrumando minhas coisas, meu marido levando tudo pro carro, mas dessa vez, DESSA VEZ, eu tinha o meu filho comigo. Tudo era novo. Eu não sabia como seria. Ali eu era a mãe de segunda viagem mais primeira viagem do mundo! 

A enfermeira chegou, nos acompanhou pelos corredores e eu não conseguia deixar de sorrir ao ver meu Minduim sendo empurrado no seu bercinho. Que vontade de sair correndo por aquela maternidade e gritar pra todos os cantos: ESTAMOS INDO PRA CASAAAAAAA! Mas minha cesariana não permitia isso. 

Além da minha mãe e do meu marido, estava comigo (como ela mesma diz) aquela que segurou pela primeira vez meu filho no colo, que colocou nos meus braços o presente que meu anjo Miguel enviou. Os três me acompanharam a distância, como se quisessem deixar esse momento só meu. Só nosso.

E quando chegamos à recepção, eu me senti como se assistisse tudo aquilo de fora, em câmera lenta:
Eu de alta sem o Miguel...
Passando por aquela porta por 40 dias, pensando em quando o teria comigo saindo dali...
Indo embora sem ele, pra sempre...

Ao mesmo tempo,  era real! Eu estava ali com o Theo!

A enfermeira me entregou meu pacotinho e tudo isso se tornou um turbilhão de sensações e emoções que eu nunca conseguirei explicar. Eu me via, como numa câmera girando 360º ao meu redor, segurando o Theo, as pessoas ao redor me olhando chorar um choro entalado na garganta por 15 meses. Todos se afastaram e eu saí devagar, com cuidado, com lágrimas de alívio, de saudade, de amor, de gratidão, de felicidade.

Paramos para a foto tradicional à porta da maternidade, aquela que eu sempre disse que um dia tiraria. 

E antes que eu pusesse os dois pés para fora, recebi um abraço e ouvi bem ao meu ouvido: "Você está pronta pra voar. Então voe, borboleta!"

Passei por aquela porta com os meus dois filhos, um nos braços e com o outro no meu coração.

Obrigada, Deus! 

Aracelli Moreira 

 

Qualquer reprodução deste texto deve seguir com a fonte de autoria: Aracelli Moreira, www.coracaodeleao.com.br

Nove Meses


Foto do parto do Theo

Foto do parto do Theo


Você passou a existir no momento em que meu coração disse que eu estava pronta para ser Mãe mais uma vez. Antes disso, eu não fazia ideia de que seria emocionalmente possível.

Foi só quando eu olhei para aquele quartinho o qual eu deixara para trás cheio de lembranças - umas concretizadas, outras só na imaginação - que entendi que você um dia chegaria para me fazer existir num outro momento da maternidade que nunca tive: o de cuidar, proteger, ver crescer.

E montar todo ele de novo, imaginando-te nele, me fez ter medo de não ser real. Mas o Amor que crescia em mim (e ainda cresce), me fez continuar sonhando com a sua chegada, com o seu rostinho, com o seu cheirinho, com o som da sua voz...

Ao longo de 9 meses, Filho, eu arrumei a minha mobília interna, as minhas paredes, meus alicerces para que eu pudesse ser a sua melhor Mãe. 

E aí você chega ao mundo e agarra no meu rosto como se dissesse "eu vim pra você, mamãe", e ali eu pude sentir o amor mais verdadeiro do mundo, meu Minduim

10:24 de um 21 de fevereiro e minha vida mudou, para melhor, mais uma vez.

Aracelli Moreira 

 

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Sala de Espera


Quatro barrigudas, uma em cada ponta.

Uma acaricia a barriguinha...

Outra come barrinha de cereal como se fosse um pudim inteiro...

Eu escrevo...

A quarta está cheia de malas... Vai internar!

Eu, quando vinha para sentar aqui à espera das ultras do meu leãozinho , no ano retrasado, via as outras mães levando seus filhotinhos pra casa, enquanto eu pensava quando seria a nossa vez. 

Ultimamente passei os 9 meses sentada aqui me vendo no ano retrasado, em que minha vida se resumia à UTI do andar de cima: crachá, casaco, garrafinha d'água e Havaianas para aguentar as horas de pé. 

Já com meu "Mindu", passei todos esses meses sabendo que o viria nas ultras pelo monitor, de cara emburrada, mostrando o bumbum e que tudo estaria bem. Que o terei ao meu lado desde o instante que nascer. Que lá de cima, meu Miguelindo cuida de tudo do jeitinho que a mamãe sempre sonhou. 

´Aracelli, pode entrar!´

Aracelli Moreira 

 

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Às mães de Anjos


relógio

Tempo

Do dicionário: "Série ininterrupta e eterna de instantes", "Medida arbitrária da duração das coisas".

Tudo depende do Tempo. É ele que nos faz mais, ou menos, que nos ameniza, ou que nos aumenta o sentir por algo ou alguém. Que desvenda aquilo que não queremos ver, ou disfarça o que nos é desnecessário.

É o tempo que  nos mostra que a vida é feita de pequenos instantes, que não passam, mas se distanciam, se transformam, se ressignificam... 

Por meses eu quis que a vida ora passasse logo, ora voltasse e me mostrasse outra realidade. Mas aí não estaria falando de tempo, mas de fuga. Mães de Anjos por vezes querem fugir, porque o tempo parece que para, é como se ele estagnasse para que se possa olhar tudo detalhadamente.

Viu? É essa sua nova vida. É com ela que você deverá reaprender a viver. E eu vou te dar a duração necessária para isso.” – É assim que o imagino dizendo em meu ouvido.

Essa série ininterrupta e eterna de instantes me fez voltar a falar com Deus, me fez entender a missão que eu escolhi para viver com o meu filho que partiu, me fez desejar continuar a viver uma nova página com Theo, com a nossa família, de uma história que não tem fim.

O tempo me mostra que 1 ano pode ser muito pouco, ou até mesmo uma vida inteira. Que um dia achei que nunca mais fosse sorrir, ou amar, ou querer que chegasse o outro dia, e de repente tudo o que eu quero é um tempo cheio de instantes que me farão ainda mais feliz! 

Aracelli Moreira 

 

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Chá de Minduim


Chá de Minduim tem que ser a caráter. E assim foi! Demorei meses para organizar, pensar nos detalhes, não porque tinham tantos assim, mas porque Eu precisava viver todas as etapas dessa nova gestação. 

Charlie Brown - Chá do Theo

Charlie Brown - Chá do Theo

No início da gravidez do Theo, tudo foi muito confuso aqui dentro, eu me sentia pronta, mas o meu coração de mãe ainda estava sangrando. Acho que essa é uma ferida que não sara jamais. Mas eu também compreendi que o Theo encontraria uma mãe muito diferente da que o Miguel encontrou. Assim como qualquer outro filho que venha depois do primeiro. Toda mãe, com a experiência de tudo que viveu com seu primogênito, transforma-se. E não foi diferente comigo. Em muitos sentidos. 

Mas isso dará um outro texto mais à frente (rsss)... 

Voltando...

A terapia me ajudou a ver que se o Miguel estivesse aqui comigo, crescendo, engatinhando, ele me exigiria atenção - eu estaria nos preparativos da sua primeira festa de aniversário - e teria que saber dividi-la entre os dois. Por isso eu não me culpei dedicar essa atenção, a princípio, ao Miguel, ao lançamento do livro que fiz sobre ele, para ele. Eu não conseguiria dar um novo passo de outro jeito. Era como fechar um ciclo. Assim me sentia numa preparação para uma nova etapa da minha vida.

Fiz o lançamento e só então eu pensei na primeira celebração (de muuuuuitas) que o Theo terá. 

Escolhi o tema do Charlie Brown e Snoopy porque eu carrego o Minduim mais amado do mundo, tinha que ser esse o tema! Mas como eu disse, a mamãe aqui não é mais a mesma e não aguentou fazer tudo sozinha como da outra vez. Precisei de reforços!!! Mal consegui fazer uma brincadeira, logo eu, a Rainha das Brincadeiras e Surpresas dos Chás de Panelas, de Bebês, etc. (minhas amigas que digam!). Mas a barriga de 32 semanas já não está colaborando com as dores na lombar. Cheguei à conclusão que a gravidez do Miguel foi pura fantasia. Eu pulei, dancei, corri e nada senti. Só felicidade. 

Desta gestação, a minha felicidade se resume a uma gravidez normal, com alguns poucos sintomas, verdade, mas algo dentro da realidade de toda mãe. Eu sempre dizia que queria ter tooooodos os sintomas do mundo, para que meu Miguel estivesse a salvo. E eu nada pude fazer quanto a isso. E agora, graças a Deus, eu ouço dos médicos: “O Theo está ótimo!”. E sentir dor na lombar ou falta de ar me faz até sorrir, porque ele está bem.

Lê-se: "Pode comer sem culpa. Você vai continuar linda! Theo, 16/01/16"

Lê-se: "Pode comer sem culpa. Você vai continuar linda! Theo, 16/01/16"

Há poucos dias da festa, fui tomada por uma alegria que nem eu imaginei que sentiria, uma gratidão ainda maior por Deus permitir que eu estivesse vivendo tudo aquilo de novo. E assim foi por todo tempo. Vi a mesma alegria no meu marido, no carinho que tivemos em deixar tudo perfeito para celebrarmos a chegada do nosso Theo.

E essa alegria estava nos olhos, nos sorrisos de todos que foram viver esse novo momento de nossas vidas.

O Chá de fraldas foi muito mais que uma festinha entre amigos e familiares, foi dizer ao meu filhote que ele é muito aguardado, muito amado e que estamos à sua espera.

Aracelli Moreira 

 

Qualquer reprodução deste texto deve seguir com a fonte de autoria: Aracelli Moreira, www.coracaodeleao.com.br

 

 
 

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