Coração de Leão

Uma autobiografia que envolve Amor e Fé entre mãe e filhos, capaz de mostrar que o Amor incondicional vai além da despedida... E ainda é capaz de recomeçar.

Um jardim encantado


Ensaio fotográfico do Theo, por Carol Correa Photography

Ensaio fotográfico do Theo, por Carol Correa Photography

No último dia 9, meu marido e eu saímos de casa para tirarmos as fotos do Ensaio do Theo. Pela primeira vez tivemos um “evento” para o nosso mais novo. Fiz as fotos num lugar diferente de quando fizemos na gravidez do Miguelindo. Figurino diferente, fotógrafa diferente e por que não Pais diferentes?! 

Não há como sermos os mesmos de outubro de 2014. Naquela época, não fazíamos ideia de nada, pelo que passaríamos, de quem nos transformaríamos...

Se há pouco mais de um ano, eu corri pelo Parque Lage com uma saia de filó, agora eu estava num vestido longo rendado toda trabalhada na elegância. 

O Miguel me fez ter pressa. Eu corri pra tudo! Até mesmo para amá-lo o máximo possível. Consegui até o impossível. Com Theo, tenho a calmaria, talvez a sabedoria de uma Mãe de Segunda Viagem

Escutei a fotógrafa dizer: “Ponha a mão na barriga e se conecte ao seu filho.”. E um filme passou na minha cabeça...

Pensei naquela tarde do Parque Lage (há mais de um ano), nas coisas que imaginei que realizaria com ele, em tudo. Eu sabia que seria um momento de muitos pensamentos. 

Se o Miguel estivesse ali, estaria desviando minha atenção do mesmo jeito, correndo, caindo, chorando, fazendo pirraça... Então, resolvi deixar meus pensamentos fluírem. 

Foram muitos os momentos que revivi aquele ensaio de meses atrás, mas aos poucos fui me conectando ao Theo. Senti-o mexer, mostrar a mim que agora era ele, era a vez dele me fazer feliz, a seu modo, com a sua história.

E meu Minduim passou a ser a estrela daquela manhã. Todas as vezes que sorria, pensava: “Mamãe está aqui por você, meu amor!”. E assim ficamos durante 4 horas andando pelo Jardim Botânico curtindo cada segundo daquele momento. E pelo que vi no resultado das fotos, meu amor por ele foi registrado para que um dia possamos ver essas fotos, j-u-n-t-o-s!

Aracelli Moreira 

 

Qualquer reprodução deste texto deve seguir com a fonte de autoria: Aracelli Moreira, www.coracaodeleao.com.br

 

Flor do Amendoim


Foto: José Carlos Patrício

Foto: José Carlos Patrício

A primeira vez que me viram disseram: “Do tamanho de um amendoim”. Na verdade eu era bem menor que isso, mas achei engraçado a mamãe e o papai me verem já como amendoim. 

Com o tempo, fui crescendo, ficando forte e passei longe de ficar tão pequenininho. Mas ainda me chamavam assim. 

Quando descobriram que eu viria menino, mamãe disse que eu era seu “Minduim”, como o Charlie Borwn, do Snoopy. Às vezes a ouço me chamando de “Mindu”, e papai, de “Mindu Theo”. Já tenho até nome composto! 

Além do jeito carinhoso que encontraram para me chamar, escolheram o meu nome, e eu soube no exato instante que era ele, assim como meu irmão me dissera ainda no céu. 

Senti a mamãe chorar de saudades dele, ouvi atentamente todos os seus medos e fiz de tudo para que ela recebesse sempre as melhores notícias minhas nas ultras. E ouvia o papai dizer: “Esse é o Mindu Theo do papai!”. O que eu podia fazer? Dar pulos dentro da barriga da mamãe, ué! 

Eu vim para vida deles para fazê-los ainda mais felizes. E consegui. Tudo o que o Miguel me disse era verdade. Meu quarto não será azul, a mamãe canta pra gente ainda dentro da barriga, e que eu ia receber todo amor do mundo.


Theo, Minduim da mamãe e do papai.

Aracelli Moreira 

 

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34 dias


Menstruação atrasada 34 dias. Mas eu nunca tive um ciclo fechadinho de 28 dias, ou qualquer outro exato. E depois do parto do Miguel, fiz ciclo de 15, 20, 40 dias. Então estar atrasada 34 dias não queria dizer nada. Fiz um teste de farmácia: negativo

Me senti uma idiota. “Pra que fazer um teste de gravidez? Se decidi este mês engravidar?” Somado a isso, a ansiedade, mas também a culpa... Culpa por querer mais um filho, mesmo tendo um longe de mim e para sempre. 

Dois dias depois meu marido achou que podíamos fazer um Beta e ter a certeza da resposta. Eu não cheguei a dizer do negativo, até porque no fundo no fundo Eu queria também ter uma resposta definitiva.

Fiz o exame de sangue e saí do laboratório um desastre, me sentindo a pior mãe do mundo para o meu anjo que partira. E estava ainda morrendo de medo do previsível negativo, porque aí a decepção não seria só minha, mas do meu marido também. 

Cheguei a casa e chorei a manhã inteira. Revi as fotos do Miguel e voltei ao fundo azul da minha piscina do luto, me afoguei com as minhas lágrimas. 

Passei o resto da tarde me ocupando com coisas do meu trabalho para não ter que acessar o site do laboratório e pegar o resultado. Mas como a gente nunca consegue se enganar realmente, às 15:59 eu já estava atualizando a página com o resultado previsto para as 16h. 

Eu que tinha o Beta positivo do Miguel marcando mais de 1.500, vi um 64 como sendo um falso positivo. “Não é possível que seja isso!”. 

Mandei uma mensagem à minha obstetra e fiquei à espera, os mais longos 3 minutos da vida, até ela me mandar esta foto:

Um dia (ainda poucos meses depois da partida do meu filho) ela disse que me via como uma lagarta no casulo, que demoraria o tempo necessário para criar asas e só então poder voar. E agora ela me mostrava essa linda borboleta, sendo oferecida das mãos de um menininho, pronta para voar. 

Era o meu presente escolhido por um anjo.❤

Aracelli Moreira 

 

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1 ano depois


coração

Não consegui escrever nada no dia de ontem. Na verdade só revivi nesses últimos dias tudo o que passamos há um ano. Dia 5 sua Cirurgia, dia 6 sua Despedida. Dia 7 o dia do Adeus. 
Hoje eu sei que não "perdi" porque não se perde alguém que se ama tanto, principalmente um filho, que cresceu aqui dentro. A gente apenas... se despede. 

Mas ainda assim está presente em mim, pertinho, aquecendo meu coração, me mostrando o lado mais colorido da vida. 

Outras Mães de Anjos dizem ser essa uma data que passamos tudo novamente... Verdade.
Me permiti sentir saudades e reviver tudo. Não é fácil, mas nada mais é tão duro do que o que senti há um ano, nem mesmo essa saudade. Eu nunca quis viver num mundo cheio de purpurinas, de fantasia, não seria agora que faria, fingindo que nada aconteceu. "A dor tem que ser sentida" porque ela é parte do Amor. 


Gostaria de dizer a essas mulheres, que a sentem caladas, dentro do quarto, com nó no peito, uma coisa que aprendi muito bem: Permitam-se!!!
Obrigada pelas lindas palavras, preces, energias que vocês me mandam, me dizendo coisas lindas, me fazendo ser parte de suas vidas. Vocês que me fazem estar cercada por leoas capazes das atitudes mais corajosas e fortes do mundo. <3


Precisei ir ao fundo da piscina e saber que dentro de mim, mais uma vez, cresce a razão da minha vida, e voltar à borda ainda mais grata por Deus ter me escolhido para ser a Mãe do Miguel. E ainda receber um segundo presente, Theo.

Miguel se foi no Dia da Gratidão. Se não é ela que tenho pelas pessoas maravilhosas que ele escolheu e me deixou, então não sei o que pode ser! 

Obrigada a todas as outras pessoas que cuidaram dele, que o amam, que passaram a conhecê-lo depois do livro e que ainda recebem sua Luz.

<3 Leãozinho, grata sou eu por ter você em minha vida! <3

Foi num dia como hoje que comecei a escrever tudo o que ele me transmitiu, e agora essa história já faz parte de muitas outras pessoas que precisavam saber que seu Amor e sua Luz vêm para acalentar nossos corações. 

Aracelli Moreira 

 

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Pronta para recomeçar


Quando me despedi do Miguel, naquele 6 de janeiro de 2015, a sensação que tive foi: nunca mais conseguirei amar outra criança.

E assim, por meses. 

Ao longo do meu processo de luto, de crises de choro, angústia, desespero, saudade, e tudo aquilo o que ele nos proporciona, eu entendi que havia uma falta, um vazio que nunca poderia ser preenchido pelo Miguel. O outro lado da maternidade, o de cuidar, de ver crescer, de assoprar o machucado, de levar à escola, de dormir juntinho quando ele tivesse medo de escuro. Foi aí que senti que meu coração de mãe não tinha tamanho, dimensão, ele era capaz de amar quantos filhos eu tivesse. Todos de forma infinita, plena, incondicional. 

O que antes eu sentia não ter espaço era porque na verdade a dor era latente, o sofrimento não me deixava sentir nada diferente. Mas ao longo dos meses, de muito escrever, de ressignificar tudo o que vivi com meu leãozinho, me vi pronta para Mais um Filho. Não "outro". Porque meu branquelo, gorducho, de cabelos arrepiados sempre será o Meu Primeiro Filho, o irmão mais velho. 

Seis meses depois, meu anjo me mandou o presente que ele escolheu: Theo.
E quem disse que foi fácil? Quem disse que estar feliz pela chegada de mais um Filho não deixaria a mamãe aqui chorar muito por não achar justo querer ser feliz quando se tem um filho no céu?

O início da segunda gravidez foi de muita Culpa, Medo...  Mas como sempre o Tempo é capaz de deixar tudo mais claro. Pedi desculpas ao meu anjo todas as vezes que chorei por culpa. Pedi desculpas ao meu bebê que crescia em mim sem ter ideia do porquê eu tanto chorar.

Meus dois amores me deram forças para que eu pudesse entender que o Miguel deseja que eu continue, e que o Theo vem para que isso seja possível. Que ambos são a minha vida, que são por eles que eu vivo, reajo, arrisco, desafio e transformo.

Aracelli Moreira 

 

Qualquer reprodução deste texto deve seguir com a fonte de autoria: Aracelli Moreira, www.coracaodeleao.com.br

 

 
 

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