Coração de Leão

Uma autobiografia que envolve Amor e Fé entre mãe e filhos, capaz de mostrar que o Amor incondicional vai além da despedida... E ainda é capaz de recomeçar.

Entrevista para o Blog Temos Que Falar Sobre Isso


leaozinho

Trecho da entrevista que dei no Blog Temos que Falar Sobre Isso, sobre a publicação do meu livro e sobre o Luto.

 

COMO VOCÊ PERCEBE QUE A SOCIEDADE LIDA COM ESTE TIPO DE EXPERIÊNCIA QUE VOCÊ VIVEU?

Eu estive e estou cercada por pessoas maravilhosas, boa parte do tempo. Tive profissionais que cuidaram do meu filho e de mim, os quais nos deram total apoio médico, psicológico, emocional. Além da nossa família e amigos que abraçaram a história do Miguel antes e depois de sua partida.

Mas ainda assim, deparei-me com situações e comentários desastrosos. E no início, que estamos muito fragilizadas, ouvir coisas do tipo: “Você é muito nova pode ter outro.” (Como se “outro” fosse apagar ou suprir a falta do filho que se foi); “Da próxima vez, seu filho não vai vir com problemas”; “Ainda bem que foi agora, imagina se fosse depois?”. Frases que acredito que foram ditas sem maldade, e até acredito que quem as disse achou que estava me fazendo um bem enorme.

Mas o pior mesmo, para mim, são aquelas pessoas que não entendem o meu luto. Que têm um pré-julgamento de como estou ou de como deveria estar. Eu sempre digo: “Nada do Miguel me faz mal. Tudo do meu filho é meu. Tudo o que vem dele é luz. Ele me faz bem sempre.”. Até mesmo no momento mais difícil da minha vida, ele me fez sentir paz em meu coração. Portanto frase do tipo “Você é uma pessoa tão boa, não merecia isso!” é uma incoerência absurda que eu não admito. O Miguel não é um castigo. Pelo contrário. Todos os dias eu agradeço a Deus por ele ter me escolhido como sua mãe. Eu sempre disse aos médicos: “Tudo do meu filho é meu. Eu o quero de qualquer jeito.

E se o processo de passar pelo luto é difícil, ter que ouvir ou passar por situações parecidas nos faz precisar de mais força.

 

VOCÊ SENTIU QUE HOUVE RECONHECIMENTO SOCIAL PARA O SEU LUTO?

Boa parte do tempo, sim, como falei. Mas a nossa sociedade não está preparada para lidar com o luto. Claro que eu nunca tinha percebido isso nitidamente como agora. Desde pequenos ouvimos que “Lugar de criança não é em cemitério!”, por quê? Por que “poupar” uma criança da experiência de entender que nossa vida aqui não é para sempre, que muitas das vezes não será alguém velhinho (“que já estava na hora”, como dizem) que vai embora, mas o irmãozinho, o coleguinha, pai ou mãe,…? E aí crescemos alienados com esse tipo de realidade. “Poupar” de quê?

Viramos adultos que tentam desesperadamente se livrar da dor da perda quando ela inevitavelmente aparece. Somos adultos que dizem a uma mãe que perdeu um filho: “Daqui a pouco você tem outro.”, porque o importante é chorar logo e “bola pra frente”.

Esse é o momento que muitas mulheres se sentem só. E aí acabam se trancando pra vida e sofrendo caladas, ou pior, fingem que não sentem. E uma hora isso vem à tona.

 

COMO VOCÊ VÊ A IMPORTÂNCIA DO COMPANHEIRO PARA AJUDAR NO PROCESSO DE ELABORAÇÃO DA PERDA DO FILHO?

Há aquele ditado que diz “Mãe é mãe!”. Ok. Mas pai também é pai, também ama, também sofre, também tem luto. Eu sei o quanto o meu marido sofreu. O quanto ele precisou ser forte para que eu não surtasse. O quanto também ele se apoiou na minha coragem. Lembro-me de uma frase que falamos assim que deixamos acontecer o sepultamento, já indo embora: “Hoje será o primeiro dia do resto de nossas vidas.”. E assim foi. Juntos, fomos vencendo cada dia. Tornamo-nos outras pessoas. Para melhor, acredito.

Não é fácil enterrar um filho, mas deve ser ainda mais difícil quando um dos lados não está ali para segurar a onda. Evito falar, ou escrever, aquilo o que ele fez, diz, porque quero respeitar ao máximo essa experiência vivida entre pai e filho. Mas ter o meu marido comigo, sempre, para tudo, fez e faz total diferença para a minha vida. E sei que é isso que o Miguel deseja.

 

O QUE VOCÊ DIRIA AOS PAIS QUE ACABARAM DE VIVENCIAR A PERDA GESTACIONAL OU NEONATAL?

Que vão sentir coisas que talvez nunca tenham sentido. Que a humilhação, a impotência, a culpa, o sentimento de abandono (eu me senti abandona por Deus durante algum tempo) são coisas muito comuns no processo do Luto. E sentimos vergonha por isso. Mas entendam que todos nós sentimos. E isso passa. Graças a Deus.

É um processo doloroso, que requer paciência, tempo. Essa palavrinha fará total diferença. Tempo. Será ele que os trará de volta à vida. Foi ele que me mostrou que o abismo, o vazio, acaba. Que nos faz ver que a vida pode voltar a ter sentido.

Eu nunca imaginei que fosse perder o Miguel. E reaprender a viver sem ele foi a coisa mais difícil a ser feita. Mas eu consegui. Com o Tempo… e escrevendo, consegui entender a missão que meu filho tinha que cumprir e a minha também.

Portanto, permitam-se sofrer, chorar, sentir raiva. Permitam-se sentir a dor. Porque é preciso, é necessário, é inevitável. Não poupem ninguém além de vocês! Porque só vocês sentem isso. Só quem perde um filho sabe como é. Vocês não perderam um parente, um amigo, perderam algo além de um membro do corpo, perderam alguém que era parte, ou quem sabe, o todo?!

Aprendi que a vida acaba, mas que o existir é eterno. Deixem que a dor sossegue no peito e se permitam viver com a existência de seus filhos para sempre em seus corações.

Entrevista completa em: https://goo.gl/ff12ho

 
 

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