Coração de Leão

Uma autobiografia que envolve Amor e Fé entre mãe e filhos, capaz de mostrar que o Amor incondicional vai além da despedida... E ainda é capaz de recomeçar.

De onde vem o arco-íris


arco iris

Dizem que depois da tempestade vem o arco-íris. E é por isso que a mãe que se despede de um filho, ao engravidar novamente, espera seu "bebê arco-íris". (Assim dizemos!)

Custei entender o que seria a "tempestade" pra mim. Ela não foi o Miguel, não foram todas as coisas que vivemos juntos, nem aquelas que não vivemos. 

A minha tempestade foi a mistura de dor e medo. 

É a ausência. 

Por meses, mesmo quando já grávida do Theo, a ausência me molhava com gotas grossas de chuva. Daquelas que batem forte na gente. 

Há quase cinco meses, dessa tempestade eu sinto o cheiro de terra molhada, é esse cheiro que me faz saber o que vivi. Quando é preciso, ela volta num dia nublado e cheio de chuviscos.

Há quase cinco meses, vejo todas as cores do meu arco-íris iluminando cada pedacinho de mim. 

Olhar nos olhos do meu filho mais novo é saber que nunca me despedi por completo do meu mais velho. É ver no seu sorriso, na sua cara de choro partes das lembranças deixadas pelo meu leãozinho. 

É perceber, a cada dia, o quanto de Miguel tem no Theo, mas principalmente, o quanto de Theo tem em mim. O que ele me trouxe, o que me faz sentir, que me proporciona ver as cores desse arco-íris. 

O Miguel é a minha Luz. 
Ao Theo, coube a missão de Colorir a minha vida! 

Aracelli Moreira 

 

Qualquer reprodução deste texto deve seguir com a fonte de autoria: Aracelli Moreira, www.coracaodeleao.com.br

Dia das Mães


Gestações do Miguel e do Theo, respectivamente.

Gestações do Miguel e do Theo, respectivamente.

Por todos dias e noites na UTI...
Por outros à beira do berço.
Por todas as vezes que me impediram de te ver...
Por todos os momentos que sou eu a estar com você.
Por todo leite numa sonda...
Por sentir sugá-lo em mim.
Pelas fraldas não trocadas...
Pelas inúmeras cheias de cocô que posso trocar.
Pelo cheirinho de esparadrapo...
Pelo cheirinho de cama.
Pelo colo vigiado...
Pelo colo à vontade.
Pelos bipes dos monitores...
Pelas musiquinhas de ninar.
Pela despedida...
Pela chegada.

Pelos seus sorrisos, seus olhares, por suas existências!

Pela Luz... Pela Esperança... 

Eu amo vocês, Meus Filhos! 

Aracelli Moreira 

 

Qualquer reprodução deste texto deve seguir com a fonte de autoria: Aracelli Moreira, www.coracaodeleao.com.br

Um novo eu


Quando se despede de um filho, por uma vida inteira, todas nós, mães, passamos por um processo de transformação que é inevitável, irreversível, incontrolável. Eu dizia muito no início "eu não me reconheço mais", "não consigo ser a Aracelli de antes". E ouço sempre de outras mães a mesma coisa. 

Mas com o tempo a gente passa a se (re)conhecer, a entender que é impossível mesmo passar por tanto e não mudar. Olhamos tudo de maneira muito mais sensível, com mais detalhes. A vida passa a ter outro contorno. 

Claro que, quando damos conta que não somos mais as mesmas, somado a dor, tudo parece um pesadelo. E entendemos que esse novo Eu aparece e, na verdade, é fruto da experiência que passamos, mas também da existência dos nossos filhos, e por eles, somos capazes de nos transformar até num inseto, se preciso! 

E a cada dia, esse novo processo me mostra algo que não estava ali. Esses dias percebi que uma mãe que não tem mais seu filho é semelhante a um alcoólatra em tratamento para o resto da vida. Em que se precisa vencer um dia de cada vez. E se algo, ou alguém, ativa nossa dor, ela vem com tudo, e voltamos ao fundo do poço.

Ouço muitos relatos de outras mães que dizem "estava tudo bem até que...". 
Por isso esse processo de transformação nos exige Autoconhecimento. Precisamos entender nossos limites, repensar em nossas atitudes e sempre nos perguntar "Isso é bom pra mim?
Porque a saudade em si já é algo grandioso demais que temos que lidar, e pra sempre! Por isso, saber até onde podemos ir, até onde podemos deixar que outras pessoas avancem, é uma questão de sobrevivência... nossa!

Quem disse que hoje desejo ser a Aracelli que fui até 2013? Porque minha versão Mãe do Miguel e agora Mãe do Theo é a mais completa, cheia de coragem e medo, capaz de enfrentar o universo mas também que pode chorar antes de dormir. 

Essa versão mais completa não é só porque me despedi de um dos meus filhos, mas porque eles existem em mim! 

Aracelli Moreira 

 

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Pela Porta da Frente


Saída da maternidade

Saída da maternidade

Um dia eu recebi alta e ouvi da enfermeira que poderia retornar para visitar o meu filho. Visitar. Visitar! Passei com ele 9 meses dentro de mim e, a partir daquele momento, eu poderia  vi si tar  o meu filho. 

Lembro-me de sair com lágrimas pesadas escorrendo pelo meu rosto. Entrei no carro com a minha mãe e meu marido, os dois em silêncio, respeitando a minha dor. 

Todos nós sabíamos que o Miguel ficaria na UTI, mas quem disse que meu coração de mãe tinha ou queria entender?! 

Mas dor maior eu ainda sentiria semanas depois, quando saísse por aquela porta sem ele para sempre.

Agora, poucos dias atrás, recebi minha tão aguardada alta. Dessa vez, não houve equipe cirúrgica à espera do meu filho, eu pude arrumar seu quartinho porque a expectativa era de que em breve ele estaria em casa, todos que foram à maternidade foram NOS visitar, e não encontraram apenas comigo. 

A cena que eu tanto aguardava, após o nascimento do meu segundo filho, era a dele sendo levado pela enfermeira, vindo do berçário para ficar comigo.

Eu ainda estava meio sedada, nem consigo me lembrar de muitos que estiveram conosco nesse momento, esqueci-me também da maioria das coisas que disse, mas essa cena, eu nunca vou me esquecer. 

Ali eu REcomeçava. 

Não consegui dormir nos dois dias que estivemos lá. Passei as noites sentada na cama do hospital olhando o Theo dormir. Tudo aquilo ainda era novo e me dava um medo danado de não ser verdade. Numa das poucas conversas que me recordo, lembro-me da Mãe do Thi (que vocês conhecem pelo livro) olhando nos meus olhos e dizendo "É real!". Foi a mesma coisa que ela disse à Mãe da Sofia e a mim, quando sua segunda filha nasceu. 
"É real!". 
"É real!". 
Eu repetia dentro de mim. 

E quando disseram que já poderíamos ir pra casa, senti um friozinho na barriga. 

Mais uma vez, vi minha mãe arrumando minhas coisas, meu marido levando tudo pro carro, mas dessa vez, DESSA VEZ, eu tinha o meu filho comigo. Tudo era novo. Eu não sabia como seria. Ali eu era a mãe de segunda viagem mais primeira viagem do mundo! 

A enfermeira chegou, nos acompanhou pelos corredores e eu não conseguia deixar de sorrir ao ver meu Minduim sendo empurrado no seu bercinho. Que vontade de sair correndo por aquela maternidade e gritar pra todos os cantos: ESTAMOS INDO PRA CASAAAAAAA! Mas minha cesariana não permitia isso. 

Além da minha mãe e do meu marido, estava comigo (como ela mesma diz) aquela que segurou pela primeira vez meu filho no colo, que colocou nos meus braços o presente que meu anjo Miguel enviou. Os três me acompanharam a distância, como se quisessem deixar esse momento só meu. Só nosso.

E quando chegamos à recepção, eu me senti como se assistisse tudo aquilo de fora, em câmera lenta:
Eu de alta sem o Miguel...
Passando por aquela porta por 40 dias, pensando em quando o teria comigo saindo dali...
Indo embora sem ele, pra sempre...

Ao mesmo tempo,  era real! Eu estava ali com o Theo!

A enfermeira me entregou meu pacotinho e tudo isso se tornou um turbilhão de sensações e emoções que eu nunca conseguirei explicar. Eu me via, como numa câmera girando 360º ao meu redor, segurando o Theo, as pessoas ao redor me olhando chorar um choro entalado na garganta por 15 meses. Todos se afastaram e eu saí devagar, com cuidado, com lágrimas de alívio, de saudade, de amor, de gratidão, de felicidade.

Paramos para a foto tradicional à porta da maternidade, aquela que eu sempre disse que um dia tiraria. 

E antes que eu pusesse os dois pés para fora, recebi um abraço e ouvi bem ao meu ouvido: "Você está pronta pra voar. Então voe, borboleta!"

Passei por aquela porta com os meus dois filhos, um nos braços e com o outro no meu coração.

Obrigada, Deus! 

Aracelli Moreira 

 

Qualquer reprodução deste texto deve seguir com a fonte de autoria: Aracelli Moreira, www.coracaodeleao.com.br

Nove Meses


Foto do parto do Theo

Foto do parto do Theo


Você passou a existir no momento em que meu coração disse que eu estava pronta para ser Mãe mais uma vez. Antes disso, eu não fazia ideia de que seria emocionalmente possível.

Foi só quando eu olhei para aquele quartinho o qual eu deixara para trás cheio de lembranças - umas concretizadas, outras só na imaginação - que entendi que você um dia chegaria para me fazer existir num outro momento da maternidade que nunca tive: o de cuidar, proteger, ver crescer.

E montar todo ele de novo, imaginando-te nele, me fez ter medo de não ser real. Mas o Amor que crescia em mim (e ainda cresce), me fez continuar sonhando com a sua chegada, com o seu rostinho, com o seu cheirinho, com o som da sua voz...

Ao longo de 9 meses, Filho, eu arrumei a minha mobília interna, as minhas paredes, meus alicerces para que eu pudesse ser a sua melhor Mãe. 

E aí você chega ao mundo e agarra no meu rosto como se dissesse "eu vim pra você, mamãe", e ali eu pude sentir o amor mais verdadeiro do mundo, meu Minduim

10:24 de um 21 de fevereiro e minha vida mudou, para melhor, mais uma vez.

Aracelli Moreira 

 

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