Coração de Leão

Uma autobiografia que envolve Amor e Fé entre mãe e filhos, capaz de mostrar que o Amor incondicional vai além da despedida... E ainda é capaz de recomeçar.

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Como se fosse seu aniversário


Livraria Argumento, noite do lançamento

Livraria Argumento, noite do lançamento

Eu escrevi o livro. Eu contei tudo aquilo o que o meu coração desejava dizer. Eu quis levar isso a todos que amam o meu leãozinho. 
Mas foram VOCÊS que fizeram essa noite tão linda. Foram vocês que lotaram aquele andar, que ficaram horas na fila, sem reclamar. 

noite de autografos

Todas as vezes que eu olhei aquela fila enorme via sorrisos, olhos emocionados. Não via nada menos que isso. Muitas vezes, enquanto eu escrevia uma dedicatória, eram as minhas lágrimas que queriam chegar.

VOCÊS fizeram dessa noite o que mais representa a nossa história: AMOR

A maior prova de amor pelo meu leãozinho é feita por todos desde quando ele passou a existir. Sinto que ELE sabe e sente tudo isso. 

livro

No dia de ontem, Miguel faria seu primeiro aniversário. E todos nós, juntos, celebramos 1 ano da sua existência em nossas vidas!

OBRIGADA, Queridos! VOCÊS SÃO MUITO ESPECIAIS!❤

Entrevista para o Blog Temos Que Falar Sobre Isso


leaozinho

Trecho da entrevista que dei no Blog Temos que Falar Sobre Isso, sobre a publicação do meu livro e sobre o Luto.

 

COMO VOCÊ PERCEBE QUE A SOCIEDADE LIDA COM ESTE TIPO DE EXPERIÊNCIA QUE VOCÊ VIVEU?

Eu estive e estou cercada por pessoas maravilhosas, boa parte do tempo. Tive profissionais que cuidaram do meu filho e de mim, os quais nos deram total apoio médico, psicológico, emocional. Além da nossa família e amigos que abraçaram a história do Miguel antes e depois de sua partida.

Mas ainda assim, deparei-me com situações e comentários desastrosos. E no início, que estamos muito fragilizadas, ouvir coisas do tipo: “Você é muito nova pode ter outro.” (Como se “outro” fosse apagar ou suprir a falta do filho que se foi); “Da próxima vez, seu filho não vai vir com problemas”; “Ainda bem que foi agora, imagina se fosse depois?”. Frases que acredito que foram ditas sem maldade, e até acredito que quem as disse achou que estava me fazendo um bem enorme.

Mas o pior mesmo, para mim, são aquelas pessoas que não entendem o meu luto. Que têm um pré-julgamento de como estou ou de como deveria estar. Eu sempre digo: “Nada do Miguel me faz mal. Tudo do meu filho é meu. Tudo o que vem dele é luz. Ele me faz bem sempre.”. Até mesmo no momento mais difícil da minha vida, ele me fez sentir paz em meu coração. Portanto frase do tipo “Você é uma pessoa tão boa, não merecia isso!” é uma incoerência absurda que eu não admito. O Miguel não é um castigo. Pelo contrário. Todos os dias eu agradeço a Deus por ele ter me escolhido como sua mãe. Eu sempre disse aos médicos: “Tudo do meu filho é meu. Eu o quero de qualquer jeito.

E se o processo de passar pelo luto é difícil, ter que ouvir ou passar por situações parecidas nos faz precisar de mais força.

 

VOCÊ SENTIU QUE HOUVE RECONHECIMENTO SOCIAL PARA O SEU LUTO?

Boa parte do tempo, sim, como falei. Mas a nossa sociedade não está preparada para lidar com o luto. Claro que eu nunca tinha percebido isso nitidamente como agora. Desde pequenos ouvimos que “Lugar de criança não é em cemitério!”, por quê? Por que “poupar” uma criança da experiência de entender que nossa vida aqui não é para sempre, que muitas das vezes não será alguém velhinho (“que já estava na hora”, como dizem) que vai embora, mas o irmãozinho, o coleguinha, pai ou mãe,…? E aí crescemos alienados com esse tipo de realidade. “Poupar” de quê?

Viramos adultos que tentam desesperadamente se livrar da dor da perda quando ela inevitavelmente aparece. Somos adultos que dizem a uma mãe que perdeu um filho: “Daqui a pouco você tem outro.”, porque o importante é chorar logo e “bola pra frente”.

Esse é o momento que muitas mulheres se sentem só. E aí acabam se trancando pra vida e sofrendo caladas, ou pior, fingem que não sentem. E uma hora isso vem à tona.

 

COMO VOCÊ VÊ A IMPORTÂNCIA DO COMPANHEIRO PARA AJUDAR NO PROCESSO DE ELABORAÇÃO DA PERDA DO FILHO?

Há aquele ditado que diz “Mãe é mãe!”. Ok. Mas pai também é pai, também ama, também sofre, também tem luto. Eu sei o quanto o meu marido sofreu. O quanto ele precisou ser forte para que eu não surtasse. O quanto também ele se apoiou na minha coragem. Lembro-me de uma frase que falamos assim que deixamos acontecer o sepultamento, já indo embora: “Hoje será o primeiro dia do resto de nossas vidas.”. E assim foi. Juntos, fomos vencendo cada dia. Tornamo-nos outras pessoas. Para melhor, acredito.

Não é fácil enterrar um filho, mas deve ser ainda mais difícil quando um dos lados não está ali para segurar a onda. Evito falar, ou escrever, aquilo o que ele fez, diz, porque quero respeitar ao máximo essa experiência vivida entre pai e filho. Mas ter o meu marido comigo, sempre, para tudo, fez e faz total diferença para a minha vida. E sei que é isso que o Miguel deseja.

 

O QUE VOCÊ DIRIA AOS PAIS QUE ACABARAM DE VIVENCIAR A PERDA GESTACIONAL OU NEONATAL?

Que vão sentir coisas que talvez nunca tenham sentido. Que a humilhação, a impotência, a culpa, o sentimento de abandono (eu me senti abandona por Deus durante algum tempo) são coisas muito comuns no processo do Luto. E sentimos vergonha por isso. Mas entendam que todos nós sentimos. E isso passa. Graças a Deus.

É um processo doloroso, que requer paciência, tempo. Essa palavrinha fará total diferença. Tempo. Será ele que os trará de volta à vida. Foi ele que me mostrou que o abismo, o vazio, acaba. Que nos faz ver que a vida pode voltar a ter sentido.

Eu nunca imaginei que fosse perder o Miguel. E reaprender a viver sem ele foi a coisa mais difícil a ser feita. Mas eu consegui. Com o Tempo… e escrevendo, consegui entender a missão que meu filho tinha que cumprir e a minha também.

Portanto, permitam-se sofrer, chorar, sentir raiva. Permitam-se sentir a dor. Porque é preciso, é necessário, é inevitável. Não poupem ninguém além de vocês! Porque só vocês sentem isso. Só quem perde um filho sabe como é. Vocês não perderam um parente, um amigo, perderam algo além de um membro do corpo, perderam alguém que era parte, ou quem sabe, o todo?!

Aprendi que a vida acaba, mas que o existir é eterno. Deixem que a dor sossegue no peito e se permitam viver com a existência de seus filhos para sempre em seus corações.

Entrevista completa em: https://goo.gl/ff12ho

Entrevista para o Blog Maternidade no Divã


lançamento livro

Trecho da entrevista que dei ao blog Maternidade no Divã sobre a publicação do livro Coração de Leão.


O que levou você a escrever um livro sobre uma experiência sua vivida como mãe?


Na verdade, eu não “comecei a escrever um livro”. Dois dias após a partida do meu filho, vi em mim a necessidade de escrever, como desabafo, como reelaboração de tudo o que sentia e vivia. Não foi como um diário, mas revivi todos os meses de gestação e os dias ao seu lado.
Foi uma narrativa criada gradualmente. Havia dias que eu não conseguia escrever nada, nem abrir o laptop. E não me obrigava a isso. Porque escrever sobre a nossa história era uma autoterapia, minha “forma de lidar com a dor” (como diz minha terapeuta).

Quando uma mãe perde um filho, deve, precisa ter o direito de viver seu luto da maneira que achar melhor. Há momentos que precisamos de silêncio, da nossa cama, precisamos chorar em nosso travesseiro. Mas há outros que precisamos encarar os fatos, vencer barreiras.
Eu tive os meus momentos. Chorei ao meu travesseiro, fiquei reclusa, desesperei-me, achei que fosse enlouquecer. Permiti-me sofrer.

E quando meu coração dizia “Vai lá!”, eu sentava e escrevia dois, três capítulos de uma vez.

Depois fechava o laptop e só abria quando ele me chamava novamente.

Aos poucos, as páginas foram tomando forma, e vi que desde o início, do primeiro capítulo, eu tinha um livro bem à frente. Toda a narrativa foi criada na exata ordem que o livro foi registrado. É como se eu o tivesse pronto dentro de mim o tempo todo, só precisei de um tempo para dar vida!
    

Entrevista completa em http://goo.gl/04rPd5

 

 

 

 

Por trás de um véu


Foto tirada ainda na UTI por uma das enfermeiras que cuidou do Miguel


Foto tirada ainda na UTI por uma das enfermeiras que cuidou do Miguel

Ao longo de todos esses meses, eu vivo o outro lado de uma Aracelli que eu desconhecia. As mudanças em minha vida vieram por todos os lados, mas a sensação que tenho é a de que elas sempre estiveram aqui, por perto de mim, só precisavam de um start

Nos primeiros dias que descobri o diagnóstico de Síndrome de Down no Miguel, me vi diante de um texto do Movimento Down o qual dizia algo belíssimo: as pessoas quando descobrem esse diagnóstico por algum tempo, olham para a criança como sendo a própria síndrome, enxergando apenas se tem os olhinhos puxados, se terá os dedinhos de um jeito, as orelhinhas de outro,... Enfim veem a criança com um véu. 

Nos primeiros dias eu quis saber tudo sobre essa característica genética, "porque eu queria entender o Miguel", como se ele fosse a Síndrome de Down. Mas tão logo vi o véu cair, e meu coração de mãe abriu espaço infinito para que o Meu Filho, junto a todo seu pacotinho que estivesse bem acomodado. 

E hoje, quando olho alguma pessoa que esteja numa cadeira de rodas, que tenha alguma síndrome, ou que não tenha algum membro, meu senso comum já não encontra forças para me fazer olhar por cima de um véu. Porque todas elas, todos nós estamos, desejamos, sentimos, desacordamos, contrariamos, somos, vivemos a nosso modo. 
Por traz das limitações, que algumas têm e que todo resto, muitas vezes, ajuda-as a ter, existe um Alguém!

O meu alguém de quase 50 cm não gostava de trocar fraldas, mas não reclamava ao levar tantas agulhadas. Gostava de carinho na testa e sugava o meu dedo instintivamente como se fosse seu mamá. Ele era (e é) só ele. 

Aprendi com o Miguel que todos são a mesma coisa, que alguns precisarão de ajuda ao andar de bicicleta, outros para comer; alguns não saberão cálculos, outros sacarão tudo sobre física quântica; e uns muitos precisarão entender e respeitar o lugar de outros, e esses outros poderão trazer muitos ensinamentos a todos nós.

Aracelli Moreira 

 

Qualquer reprodução deste texto deve seguir com a fonte de autoria: Aracelli Moreira, www.coracaodeleao.com.br

 

 

Quando um sentimento transforma-se em livro...


Arquivo pessoal

Arquivo pessoal

Coração de Leão já está prestes a sair, e eu não fazia ideia de que ele existia dentro de mim. Foi ganhando forma ao longo dos meses e, quando dei por mim, já tinham nomes nos capítulos, páginas e páginas escritas. O que antes eu imaginara ser uma realização pessoal, algo escrito para mim, depois virou um presente que quis dar às pessoas que estiveram comigo desde que meu filho passou a existir.

Foi só em março deste ano, três meses depois, a convite do Blog Maternidade no Divã, em que publiquei um texto sobre Quando me tornei Mãe de UTI, que comecei a pensar na possibilidade dessa história não ser só minha ou de alguns, mas de todos. 

Ouço tanto, ao longo desses 11 meses, que as pessoas não entendem o luto, que muitas não querem falar, mas ele existe e atinge a qualquer um de nós. Eu quero mostrar que é com ele que também podemos crescer como ser humano, como espírito.

O Miguel não veio ao mundo para trazer sofrimento, dor, ele é só AMOR. E em nossa história tento passar tudo de Luz, de Paz, que ele traz ao meu coração.

Alguns falam que esse será o primeiro de muitos livros. Não sei, pelo menos não sinto isso. Porque toda minha inspiração é daquele leãozinho forte e corajoso que, todos os dias, me faz ser a leoa de que ele precisa.

Não pretendo ser escritora. Quero ser a Mãe dos meus meninos. 
E isso já é tudo! 

Aracelli Moreira 

 

Qualquer reprodução deste texto deve seguir com a fonte de autoria: Aracelli Moreira, www.coracaodeleao.com.br

 

 

 
 

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